Espetáculo ‘Demônios’ aborda as mazelas que oprimem e satanizam a comunidade LGBTQIA+

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Em um momento em que muito se fala sobre o papel da arte e dos movimentos LGBT na política e na sociedade, o espetáculo ‘Demônios‘, que teve estreia em junho, surge para aprofundar a discussão acerca das grandes mazelas que oprimem e satanizam a comunidade LGBTQIA+. A curta temporada acontece no Tusp fica em cartaz, até o dia 15 de julho, de quinta-feira a domingo, às 21h, exceto aos domingos em que o espetáculo é às 19h.

Com direção de Marcelo D’Avilla e Marcelo Denny, produzido pelo Grupo Teatro da PombaGira, o espetáculo reúne dança e performance, num híbrido que pretende mostrar três formas de demônios contemporâneos que afetam o homem homossexual: o sistema socioeconômico (consumo e descarte); a falência, melancolia e outras patologias mentais do nosso tempo e o neofascismo, que avança e toma lugares cada vez mais perigosos.

‘Demônios’ dá sequência à pesquisa Homo Eros que visa refletir sobre aspectos sociais, críticos e poéticos da sociedade LGBTQIA+. “Após o término do trabalho anterior (“Anatomia do Fauno”), vimos novos caminhos e novas investidas em resgatar mitologias e trazê-las para a atualidade num espetáculo performativo visceral”, conta Denny.

D’Avilla explica que um dos pontos fundamentais para o espetáculo é a proximidade com o público: “Nós já tivemos essa experiência anteriormente e foi muito positivo”. Por isso, o grupo optou pelo formato arena, em que as pessoas assistem à performance dos atores no mesmo nível do palco.

A performance é dividida em três atos, cada um identificado por uma cor. O vermelho simboliza a crítica aos processos histéricos de consumo e descarte, é a parte em que são abordados os aspectos de posse nos relacionamentos amorosos, a violência e a fetichização dos armamentos bélicos e, por sua vez, as guerras, virtualidades e frieza nas relações sociais e rotinas do sistema de trabalho e automatismos cotidianos. O bloco preto é o mais melancólico e abissal, com apelo mental e subjetivo, trata de temas como depressão, suicídio, estigmas, doenças e solidão. Por fim, o bloco branco retrata os tempos de emergente conservadorismo e o neofascismo encruado na sociedade. Atividades de higienização contra minorias que antes eram ocultas e hoje tem grande voz. Simboliza o perigo de algumas ideologias destruírem grandes avanços que a sociedade atingiu ao longo das últimas décadas.

Homoerotismo, Política e Arte

D’Avilla e Denny contam que, “atualmente, a arte, bem como as artes cênicas possam criar um lugar além do poético, acreditamos que estimular uma visão crítica do mundo que vivemos é fomentar uma reflexão para além do óbvio”.

Os diretores explicam que “Demônios” é de caráter experimental e violento, com nítido desejo de insurreição como resposta ao confinamento social que oprime e, com isso, criar um exercício de liberdade através de um forte apelo sensorial e catártico para o reconhecimento das potências do corpo.

Para D’Avilla, homo erotismo é política. “Sempre foi e agora mais do que nunca. Pois sempre foi e agora mais do que nunca. Pois o desejo é político. Desta forma é natural que uma reflexão política se misture a questões sociais e se deem mais forte nas minorias, como os homossexuais.”

Sonorização e Cenografia Imersivas

A trilha sonora, criada por Renato Navarro, foi totalmente criada para proporcionar uma experiência auditiva mais intima, em que cada pessoa recebe seu fone de ouvido e, assim, percebe as sutilezas sonoras e musicais. A trilha original é composta e mixada no sistema binaural que, juntamente com a filtragem de frequências, permite ao público determinar a direção da origem dos sons. A construção desta trilha foi feita a partir da captação dos sons dos atuadores e dos ensaios, que são recriados, sampleados e transformados numa dramaturgia sonora performativa.

A partir da premissa do espetáculo dividido em três atos distintos, a cenografia segue o mesmo princípio e cria três visualidades baseadas em um radical exercício cromático.  A ideia é criar, uma imersão do público dentro de um ambiente cromático que possa saturar a visualidade bem como desdobrar novas leituras a partir do uso das cores e texturas. Dessa maneira, no primeiro ato temos cenografia, figurinos e adereços totalmente na cor vermelha e objetos plásticos e sintéticos; ligadas ao consumo e descarte atual. No segundo ato, tudo se transforma em preto; refletindo as angústias e sentimentos sombrios da depressão. E o branco desenha todo o último ato, que tenta traduzir a higienização no conservadorismo radical de nossos tempos.

O elenco conta com Renato Teixeira, Mateus Rodrigues, Zen Damasceno, Marcelo D’Avilla, Walmir Bess, Wesley Lima, Pedro Bacellar, Padu Cecconello, Breno Andreata, Andres Vallejos, Hugo Godinho, Snoo, Ricardo Mesquita e Andrew Tassinari.


Serviço | Demônios
Onde: Tusp
Endereço: Rua Maria Antonia, 294 – Vila Buarque – São Paulo – SP
Quando: De 28 de junho a 15 de julho (Quinta a domingo)
Horário: De quinta a sábado às 21h. Aos domingos 19h
Ingresso: R$30 inteira – R$15 a meia
Onde comprar: No local, na data do espetáculo.
Acesso para cadeirantes: SIM
Capacidade: 60 lugares

Classificação: 18 anos

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