Cia. Barca dos Corações Partidos | Viva Barca, VIVA o teatro brasileiro autoral.

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Você provavelmente já ouviu falar desse nome e se não ouviu, nós nos sentimos na responsabilidade de te contar esta história.

Nascida da reunião de um grupo de atores para o espetáculo Gonzagão em 2012, a Companhia Barca dos Corações Partidos tem se consolidado como um dos maiores nomes de teatro no Brasil hoje. Ao longo desses anos, a Barca navegou por muitos mares, levando Gonzagão para mais de 200 mil espectadores, em 11 estados brasileiros, apresentando ao ar livre a peça, em excelentes condições técnicas, em localidades que na maioria dos casos não tinham teatros.

Fábio Enriquez, que faz parte da companhia desde o começo compartilha que ela surgiu da necessidade de “fazer um teatro musical brasileiro, simplesmente por sermos brasileiros, e nós temos um jeito de se mover, de falar, de cantar, de se expressar, todo especial e rico, dançar, fora os nossos arquétipos da dança popular, música popular, dos festejos populares”.

Com o crescimento do mercado de espetáculos musicais no país, inúmeras produções vêm se destacando e uma linguagem brasileira vem sendo criada com bastante abrangência em questão de linguagem e muitas produções seguem uma linha criativa bem próxima do que é feito no exterior. Sendo a música popular brasileira mundialmente reconhecida por possuir diversidade rítmica, originalidade e qualidade sonora, seria interessante que o cenário teatral do país contasse com um ramo especializado em criar espetáculos musicais dramáticos que conseguissem representar a identidade da população brasileira e é nesta questão que a Barca se destaca e surpreende porque a forma de contar uma história é o grande diferencial.

A Barca dos Corações Partidos apresentou em 2016 um dos mais importantes espetáculos do ano com “Auê”, ganhando os mais relevantes prêmios teatrais, como o Cesgranrio, APTR, Shell e Bibi Ferreira. Com temporadas no Rio e em São Paulo em 2018, a Barca apresentou um novo espetáculo chamado “Suassuna – O Auto do Reino do Sol” que baseia-se no encontro proposto pela Sarau Agência de reunir três paraibanos para sintetizar no palco a essência do autor pela direção de Luiz Carlos Vasconcelos, pelo texto de Braulio Tavares e canções de Chico César (em parceria com Beto Lemos e Alfredo Del Penho).

Durante a última temporada em São Paulo, o ator Renato Luciano nos falou um pouco sobre apresentar os 2 espetáculos: “é uma experiência fantástica, os dois espetáculos são autorais, por não se tratar de um musical biográfico, que nos exigiu uma entrega muito grande, colocando uma parte da gente ali nos palcos, talvez por isso nossas produções não são uma reprodução artística e sim uma produção artística. É uma realização incrível, entregar sua vida, coração, dores e desejos. Talvez por isso tem uma empatia tão grande do público.

NOSSA OPINIÃO:


Como espectador, sou muito fã de teatro musical e costumo frequentar muitos espetáculos e posso dizer, logo de cara, que eu nunca presenciei uma fórmula tão inovadora e coerente de teatro. Mais do que contar uma história, tanto no Auê quanto no Suassuna, a Barca te transporta para o universo criativo e lugar imaginário que eles possuem.

Todos os atores, músicos, produtores e criadores são de uma genialidade que se baseia em um conceito muito simples: eles AMAM o que fazem e esse amor está no falar, no cantar, no agir e no ENCANTAR.

Conhecendo os bastidores e conversando um pouco com dois atores, pude perceber que a intenção inicial não era fazer algo grandioso ou para impressionar. Algo que nasce no amor, geralmente não tem esta pretensão e isso fica muito claro durante ambos os espetáculos. Só que o despretensioso feito com qualidade impressiona e é esse caminho que a Barca vem traçando por onde ela passa e para quem ela conta a história.

Foto: Annelize Tozetto

No Auê, a linguagem é ainda mais surreal. Não existe uma história, um texto, uma coesão padronizada como estamos acostumados a ver na maioria dos espetáculos e que funciona para aqueles histórias. Você assiste e em um primeiro momento se questiona, porém reflete e simplesmente absorve. O objetivo não é entender, é SENTIR.

No  Suassuana, o Nordeste se faz presente e se mostra o verdadeiro coração do nosso país. Uma história de amor bem Romeu e Julieta, com um texto e uma abordagem que apresentam muito carinho e muita verdade, faz com que você se emocione e queira que aquele casal fique junto.

Saí do Teatro Frei Caneca com apenas gratidão por ter presenciado o teatro sendo contado de maneira diferente e refletindo sobre como o amor é transformador. Viva Barca, viva Suassuna, viva as novas formas de se contar uma história e, principalmente, VIVA o teatro brasileiro autoral.

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